Não fui enterrar meu camarada, justo ele, que vivia a desenterrar os mortos (Por Carpinteiro de Poesia)
Sempre lhe disse que sua sina era retirar do fundo o que fora soterrado, para que os antepassados, enfim, sejam sacralizados. Meu camarada tinha orgulho de seus pais, da luta que eles travaram, e em cujas trincheiras, nasceu, e foi ele criado. Meu camarada foi torturado ainda no útero da Mãe, e ouso dizer que passou a vida tentando superar esta agressão não apenas contra os corpos, seu e de sua mãe, mas contra a sua própria alma. Ele sabia como ninguém fazer poesias com versos longos que mais pareciam narrativas épicas dos grandes guerreiros. Ele foi um grande combatente, desses que sabe fazer o bom combate, bate, apanha, cai, levanta, sorri, segue em frente, aqui e ali, recolhendo e refazendo o que se dispersara pelo caminho. Sua militância social era antes de tudo humana na dimensão que esta palavra nos lança, no exagero desta própria humanidade, nos seus próprios erros, nas suas próprias crenças, nas suas próprias formas de intensidades para as coisas ás quais se lançava...