(#TRIBUNADOSALGADO tem a honra de inaugurar mais um projeto de comunicação e cultura com um atleta que marcou a sua história nos gramados brasileiros e trouxe muitas glórias ao Paissandu Sport Clube).
“Recordo das inúmeras vezes que ia a campo, na Curuzu ou no Mangueirão, com meu irmão José Raimundo (Péte), hoje falecido, para ver aquele poderoso Papão, comandado pelo João Avelino (1980), e que tinha Carlinhos Maracanã, Patrulheiro, Chico Spina, Lupercínio e o grande craque Roberto Batista de Paula Filho (#ROBERTOBACURI), com quem tive o prazer de dialogar - ele que me deu a mim e a minha paixão muitas alegrias, sem dúvida, um ídolo, que não por acaso marcou quase cem gols com a camisa alvi-celeste".
© Francisco Weyl, jornalista, diretor executivo e editor do Jornal #TRIBUNADOSALGADO
“Recordo das inúmeras vezes que ia a campo, na Curuzu ou no Mangueirão, com meu irmão José Raimundo (Péte), hoje falecido, para ver aquele poderoso Papão, comandado pelo João Avelino (1980), e que tinha Carlinhos Maracanã, Patrulheiro, Chico Spina, Lupercínio e o grande craque Roberto Batista de Paula Filho (#ROBERTOBACURI), com quem tive o prazer de dialogar - ele que me deu a mim e a minha paixão muitas alegrias, sem dúvida, um ídolo, que não por acaso marcou quase cem gols com a camisa alvi-celeste".
© Francisco Weyl, jornalista, diretor executivo e editor do Jornal #TRIBUNADOSALGADO
A BOLA
Morador de Bragança há cerca de 40 anos, casado com Conceição há 39 anos, pai de Roberto, 33, e de Roberta, 32, o paulistano Roberto Batista de Paula Filho, 62 anos, (que depois ficou conhecido como “Roberto Bacuri”) começou a jogar “salão” (futsal) no Clube Esportivo da Penha, em São Paulo.
“Eu era viciado em bola, eu sonhava com futebol, quando eu era garoto, menino, parece que eu to vendo, a rua, assim, de terra, ia jogar bola, nas férias, oito horas, estava na rua, onze, onze e meia, sempre ficavam uns, outros, iam almoçar, outros iam e voltavam, e eu, ficava direto, adorava, era uma coisa, o máximo, eu apanhei muito em casa, quando chegava por causa disso”, recorda o antigo atleta.
Roberto fez teste, e jogou na Portuguesa, entre 1969 e 1973, quando “estourou” a sua idade no Juvenil. Naquela época, atuavam no meio de campo do clube craques da estirpe do Eurico Brasinha e Leivinha, o que tornava difícil assumir o posto titular. E ele, que havia sido campeão-aspirante em 1972, foi emprestado ao Campo Grande (MT). Quando retornou, havia a proposta de compra de seu passe pelo São Paulo, mas acabou vindo para Belém, a convite de João Avelino, já em 1974.
E aqui começa a sua história de amor com o Paissandu Sport Clube, pelo qual marcou, cerca de 80 gols: “Eu vim emprestado, a Portuguesa me emprestou, fomos o primeiro clube a classificar no brasileiro, e o Paissandu me comprou”, recorda o antigo craque “Bacuri”, sentado ao sofá de sua residência no bairro da Vila Sinhá, em Bragança, onde recebeu a nossa equipe com a simpatia que o caracteriza.
BACURI
O apelido “Bacuri” foi uma ideia do treinador João Avelino, para quem o nome de um jogador tinha de ser de fácil assimilação, para o torcedor gravar, como Didi, Pelé, Dida. E Roberto já tinha um apelido (“bacurau”) em São Paulo: “Seu João disse que eu já possuía um nome de um grande ídolo do clube (Roberto, que lembrava o “Diabo Louro”), então, juntando com o “bacurau”, ficou Roberto Bacuri, e eu nem sabia o que era bacuri, nunca tinha visto antes sequer uma fruta, até que o Omar chegou a casa um dia com um bacuri e uma faca e eu fui abrir igual a uma laranja e ele ficou rindo de mim”, rememora.
Ele nem sabe dizer ao certo quanto é que recebia de salário em 1974: “Se fosse no dinheiro de hoje, eu ganhava menos, eu não era profissional, eu queria só um dinheiro, eu morava na Conselheiro, depois na Gentil, depois na Presidente Vargas, o clube pagava a minha comida e a minha moradia, as vezes atrasava, os torcedores que bancavam, eu era tranquilo”, diz, ao recordar o tempo em que chegou em Belém.
Para ele, o futebol era uma brincadeira, ele ganhava dinheiro para brincar, era um divertimento, que começou desde quando jogava as “peladas” em São Paulo.
“Se fosse, assim, por exemplo, o Dario ganhava R$ 30 mil, e eu R$ 5 mil, eu nunca fui de fazer contrato, só em 1980, quando me tornei profissional, mas o meu salario era o menor de todos, o reserva ganhava mais do que eu, porque eu não me profissionalizava, não fazia contrato, só em luvas, uma vez, em 1977, eu peguei um carro, mas em 1980, no Ceará, R$ 350 mil de luvas e R$ 40 mil por mês”, esclarece, atualizando seus vencimentos.
ESTRUTURA
Naquele período, o Paissandu tinha o seu estádio Leônidas Castro, com as bancadas detrás das balizas e mais a bancada da Avenida Almirante Barroso. Do lado onde hoje funcionam as cabines de imprensa, existia um prédio de dois andares, com uma cozinha embaixo e um salão com camas e armários no andar de cima. Foi ali que o jogador dormia até o final de 1975. Ele garante que era horrível, um calor insuportável.
“O Paissandu não tinha nenhuma estrutura, eu jogava porque o time era bom, o clima entre os jogadores era bom, mas o clube não nos dava condições, a gente treinava de manhã e de tarde, corria na antiga Avenida 1º de Dezembro (hoje, João Paulo II)”, afirma.
O antigo jogador recorda que os divertimentos eram poucos, limitados a uma saída para come rum caranguejo ou então a casas noturnas, como Lapinha, Pagode Chinês e outros points de Belém. Mas ele evitava saídas por causa do assédio dos fãs e dos torcedores adversários, já que também gostava de provocar pela mídia no período dos clássicos: “Eu morava com o falecido Adilson e o Ricardo, os dois eram bonitos, e eu um pretinho feinho, então, me aproveitava deles, mas logo casei e fiquei mais tranquilo, assim como a maioria que nem saia por que era tudo casado”, explica, concordando que hoje existem mais condições de segurança para garantir a presença das mulheres nos estádios.
CARTOLAS
Roberto também critica aos cartolas de antigamente, que, segundo ele, são menos burros e menos cegos do que os de hoje, que contratam atletas sem que seja observado o seu curriculum e sua performance nos clubes por onde passaram, limitando-se a quando muito assistir a vídeo-clips promocionais de atletas que causam desagradáveis surpresas quando conseguem entrar em campo. E Roberto cita por exemplo o fato de – em 1974 – Seu João ter trazido 14 jogadores para o Paissandu sendo que 11 eram titulares, enquanto que nos dias de hoje, trazem jogadores que nem entram em campo, alguns inclusive machucados.
“Os cartolas eram mais paixão do que razão, a mesma coisa do que hoje, infelizmente, o Remo, o Paissandu, e a Tuna continuam amadores, são empresas, mas tratam como se fossem apenas um time de futebol , o que acontece é que antes era a paixão, os caras davam dinheiro, a renda era pouca, eles colocavam dinheiro do bolso”, garante.
Roberto viveu um episódio no Clube que lhe deixou chateado: “Em 1976, o Bangu jogava contra o Paissandu e não podia cair, o Omar falou com o Reginaldo, que era goleiro, ele veio do Rio de Janeiro para nos comprar”, denuncia o esquema de tentativa de compra de resultados. O jogador diz que sabe do que acontece nos jogos, mas garante que na sua época esse tipo de coisa raramente acontecia.
A solução, segundo Roberto, para melhorar os clubes do Norte é investir na base. Para se ter ideia do que ele quer dizer, entre 1974 e 1975, subiram das bases para o profissional no Paissandu craques como Patrulheiro, Lupercínio, Careca, Paulo Robson, e Heider, nomes que fizeram história e trouxeram glórias e dinheiro para o clube.
Mas, apesar disso, o clube perdeu o campeonato paraense de 1979, e a mídia insinuou que a culpa foi de Roberto Bacuri: “O Edson Matoso foi muito bacana comigo, convidou e eu fui no programa dele, analisar: o time fez 80 gols, eu sendo meio-campo, fiz 46 gols, mais da metade, no campeonato paraense o artilheiro foi o Bira, com 19 gols, eu fiquei em segundo, com 17, o Rei Dadá, com 16 gols, fiz mais do que ele”, recorda.
CONFLITO
Chateado, ao fim do contrato, não queria mais jogar no Paissandu, foi contratado pelo Ceará, quando finalmente se tornou profissional: “Eu fui na hora, o Paissandu emprestou, fiquei três meses lá, ali eu virei profissional, salário e bicho em dia, eu falei, aqui tá bacana, eu ganhava R$ 1.200 no Paissandu e comecei com R$ 6.000 mil no Ceará, quando terminou o campeonato brasileiro, o América de Natal queria me levar, meu salário saltou para R$12 mil, R$ 50 mil de luva, os três times que eu joguei em 1980 foram campeões, Ceará, América e Paissandu”, comemora.
Quando João Avelino retornou para o comando do Paissandu em 1980, mandou logo buscar o “Bacuri”, então ligaram ao jogador que nem queria retornar, já era profissional, pediu alto, R$ 300 mil na mão, R$ 40 mil ao mês, a negociação foi feita, ele voltou aos braços da torcida, mas Roberto sentiu, entretanto, que o clube, apesar de campeão, continuava amador, razão porque, de seguida, ele aceitou o convite do Itabuna e foi jogar na Bahia.
E esse é o único arrependimento que tem na sua carreira, porque saiu da série A para jogar na série B, e o clube atrasou e não lhe pagou o prometido: “No Itabuna, fiquei três meses, sem me pagar, vim-me embora, mas quando retornei mais uma vez, o Paissandu tinha mudado de técnico, que sugeriu que fizesse teste, então eu parei de jogar definitivamente”, informa.
“Em 1981, quando eu parei de jogar, eu estava com 28 anos, na época dava pra jogar até 33, mas eu parei, era muito amador aqui, eu falei, eu compro o meu passe, quanto é? , era R$ 800 mil, eu pensei, eu tenho R$ 400 mil, fui com doutor Ronaldo Passarinho, os caras do remo sempre queriam me comprar, o Ronaldo falou: fecha na hora, dá o cheque que amanhã eu deposito a minha parte, fica metade do passe pra ti metade pro Remo, então voltei ao Paissandu, mas eles não concordaram”, declara.
DESPEDIDA
Roberto literalmente abandonou o futebol. E nem assistiu a Copa de 1982, porque precisava se afastar do futebol dessa forma para fazer nascer outro Roberto, mas afirma que não fez isso por mágoa: “Eu vim para Bragança com minha esposa, tivemos filhos, construímos a nossa história aqui, eu sempre fui um crítico de quem vivia de passado, então eu fui fazer outras coisas, esqueci o futebol, montei uma padaria, trabalhei como motorista, vivi a minha vida, meus filhos já estão formados”, comenta.
Por volta de 1985, Roberto chegou ainda a participar de competições de futsal durante a Semana da Pátria, mas hoje ele nem bate mais bola, apesar de sentir vontade quando observa uma partida de perto nos gramados municipais.
O melhor momento da carreira que ele gosta de lembrar foi exatamente um gol que não marcou: “Jogávamos contra o Remo no Baenão, o Paissandu três anos sem ganhar do Remo, nos atacando para a Almirante Barroso, o Remo fazia uma linha de impedimento boa, Marinho, Dutra, Aranha, Cuca, 43 minutos do segundo tempo, eu falei pro Patrulheiro e pro finado Adilson, olha só, eu vou até o meio de campo, meto a bola, vocês ficam parados, eu passo direto, meto a bola, a defesa do Remo faz a linha de impedimento, eu vou direto, a torcida se calou, um silêncio no estádio, mas eu chutei pra fora, ia quebrar o tabu em pleno Baenão, o estádio todo em silêncio na hora que eu passei do meio de campo...”, lamenta.
O futebol deu a Roberto a possibilidade de conhecer o Brasil, dos vinte e sete estados, eu só não conheço cinco, além do mais, Roberto pensa que o futebol pode salvar vidas e tirar os meninos das ruas, dar a eles uma ocupação: “Todos os esportes, porque os meninos ficam muito ociosos, as vezes, o pai tem de sair pra trabalhar, os meninos ficam sozinhos, o futebol o basquete, tem que socializar”, declara.
Hoje ainda tem contato com velhos amigos como Marinho, Cuca, Patrulheiro, Rui, Dutra, Reginaldo, Amorim, Antenor, Bosco, Chico Alves, Heider. Todo final de ano ele confraterniza com a velha guarda bicolor: “O cabinho, o Moreira, a gente se reúne pra matar a saudade, bater um papo, um encontro anual há uns dez anos, da ultima vez fomos eu e Tuíca” conclui.
Fonte © #TRIBUNADOSALGADO
(Texto e edição: Francisco Weyl / Fotos: Dri Trindade)
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