ALB em
Cabo Verde
© Por Francisco
Weyl, Acadêmico Imortal da ALB-BRAGA[1]
Há mais relações entre Brasil e Cabo Verde do que possa imaginar
a nossa vã filosofia.
A História não segue uma linha reta, antes pelo contrário, o
seu desenvolvimento é complexo e a sua dinâmica, contraditória.
Ao observamos os diversos processos e fenômenos que envolvem
África e Brasil, consideramos:
- Os mares simbólicos entre as Irmandades dos homens pretos da
Ribeira Grande da Ilha de Santiago (Cabo Verde) e a de São Benedito (Bragança);
- E as fronteiras entre os “rabelados” cabo-verdianos os povos
remanescentes de quilombos amazônidas e paraoaras-caeteuaras.
Mas, foi a fundação da Companhia do Grão Pará e Maranhão (1755),
o primeiro link entre estes dois países.
A Companhia comprava negros capturados à força no continente
africano para o trabalho escravo agrário nas capitanias do Grão Pará e do
Maranhão.
Sob as ordens do governador e Capitão-general Francisco Xavier
de Mendonça Furtado, que representava a política do irmão Sebastião de Carvalho
e Melo, o Marquês de Pombal, Primeiro-Ministro de Portugal, reinado de D. José
I.
A Companhia do Grão-Pará congregava comerciantes portugueses,
e controlava o tráfico de escravos em Lisboa, Porto, Maranhão, Pará, Cabo
Verde, Cacheu, Bissau e Angola.
A Ribeira Grande de Santiago (atual Cidade Velha) foi capital
de Cabo Verde até meados do Século XVIII.
A Ilha de Santiago de Cabo Verde, inclusive, é uma marca na
resistência negra, com muitos negros africanos a se aproveitar das passagens e
ancoragens dos navios negreiros, para se embrenhar no interior da Ilha, e
escapar.
Subordinados aos interesses pombalinos, os navios da Armada
Real, faziam a escolta dos barcos negreiros da Companhia, tendo os seus funcionários
sido reconhecidos como prestadores de serviços oficiais ao El-Rei.
A Companhia deteve a exclusividade da navegação, do comércio,
e da escravatura com as capitanias do Grão-Pará e Maranhão, durante um período
de vinte anos.
Produtos manufaturados, ferramentas, utensílios, géneros
alimentícios, medicamentos, e escravos, eram “trocados” por açúcar, café,
cacau, especiarias, madeiras, algodão, matérias corantes, tabaco, couro.
Com morte de D. José, a chamada “Viradeira” e a própria D.
Maria de Portugal acabaram com os privilégios do Marquês de Pombal e o
monopólio da Companhia, em 1778.
Reza a lenda que desapareceu a documentação brasileira da
Companhia do Grão Pará e Maranhão (1765).
E teriam sido perdidas informações do período (Séculos XVIII,
XIX) sobre economia, rotas, e trocas, entre os comércios da América, África, e
Ásia (Maranhão, Pará, Cacheu, Cabo Verde, Bissau, Angola, Macau, Coromandel,
Bengala e Malabar).
Mas todo esse conhecimento, as culturas, e a mão-de-obra
negra, estão enraizados na sociedade e na economia amazônica, desde os seus primórdios.
Os escravos negros atuaram desde a
agricultura, extrativismo, até os trabalhos domésticos, construções urbanas.
A história da escravidão no Pará,
que começou com a Companhia do Grão Pará;
E, de acordo Vicente Sales (2005),
ela tem a marca da resistência de negros e índios pela liberdade, por meio da
fuga, da construção dos quilombos, e da participação na Cabanagem
E não por acaso, o Pará tem mais
de 250 comunidades tradicionais quilombolas.
Cerca de 70 delas se localizam no vale do rio Tocantins,
entretanto, apenas 11 comunidades estão legalmente tituladas.
Segundo o historiador e pesquisador cametaense Manoel Valente,
o vale do rio Tocantins abrangia desde o município de Limoeiro do Ajuru até
Tucuruí, àquela altura São Pedro de Alcobaça.
E só lá pelo século XVIII vão surgir Baião e Mocajuba. Tudo
era Cametá. Então, muitos negros subiram os rios e se deslocaram para esta
região.
Com cerca de 60% da população autodeclarada negra, atualmente,
a cultura da região Baixo-Tocantins, no nordeste paraense, tem ascendência
africana no sangue, na língua e na cultura.
De acordo com pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Saber-Ser
Amazônia Ribeirinha na região, a pesca do camarão, a caça de animais, e
atividades de agricultura familiar (principalmente a produção da mandioca), constituem
a base de sobrevivência nessas
comunidades.
E elas enfrentam problemas relacionados à produção de bens e
ao seu escoamento, já que as estradas e estruturas de transporte são precárias.
A produção da mandioca, da qual derivam a farinha d’água, a farinha
de tapioca, o beiju cica serve tanto para a subsistência das famílias quanto
para a venda no mercado local e na feira do Joaba, que acontece aos domingos.
A identidade étnico-cultural destas comunidades se encontra
ameaçada, sobretudo pelo envelhecimento dos adultos que permanecem na
comunidade, por conseguinte a perda gradativa das manifestações culturais,
danças e ritmos, mais característicos dessas comunidades.
Em Tabatinga Média, Cametá, o samba de cacete sobrevive apenas
no imaginário e nas memórias dos mais velhos, já que a própria juventude local
vive um fenômeno que nem ela mesma consegue perceber, deixando-se diluir nas
novidades que são publicitadas pelo mercado e as quais ela própria projeta,
anseia e deseja.
De acordo com a Fundação Pró-índio, no nordeste do Pará,
existem cerca de 41 comunidades
quilombolas que tiveram as suas terras tituladas entre 1998 e 2005 na Região do
Nordeste do Pará.
Estas comunidades estão localizadas em Abaetetuba, Acará,
Augusto Correa, Baião, Bonito, Bragança, Cachoeira do Piriá, Cametá, Capitão
Poço, Colares, Concórdia do Pará, Igarapé-Miri, Irituia, Mocajuba, Moju, Oeiras
do Pará, São Miguel do Guamá, Tracuateua, Viseu.
Oficialmente, Bragança possui uma comunidade quilombola
reconhecida como remanescente de quilombo, via Fundação Palmares, com
publicação no Diário Oficial da União (02/02/2015).
Mas temos conhecimento também da existência das comunidades do
Torre e do Cigano, no Município de Tracuateua.
Bragança, 3 de Novembro de 2016
Francisco Weyl
Academia de Letras do Brasil – Seccional Bragança - Cadeira 35
[1] Além dos autores citados no seu corpo, o
presente artigo utiliza-se como fonte de pesquisas, do escritor e poeta
Moçambicano, residente em Cabo Verde, Nuno Rebocho, e do professor paraense, Hilton
P.Silva.
Fonte © #TRIBUNADOSALGADO / FOTO #DriTrindade
Texto: Francisco Weyl (Academia de Letras do Brasil –
Seccional Bragança - Cadeira 35)
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