Apenas as ações
apaixonadas prevalecem no Coletivo.
O Coletivo não é um
partido, não tem generais, e nem soldados.
O Coletivo não é
uma família moral que se deva proteger de forma institucional.
O Coletivo pode se
auto-destruir mas não pode perseguir os seus indivíduos, aqui entendidos como todos
aqueles que fazem parte do Coletivo, porque é para estes indivíduos que o
Coletivo existe.
O Coletivo é
formado de indivíduos, logo, o Coletivo tem carne e sangue.
O Coletivo é
formado de indivíduos cujo individualismo é colocado ao serviço do Coletivo,
mas o Coletivo não é democrático nem justo.
Todos são
responsáveis pelas suas ações, as quais devem ser realizadas, se desejadas.
Ele é a medida
certa de uma luta pelo Poder.
No interior do
Coletivo, as forças visceralmente catastróficas devem ser assumidas, logo, o
Coletivo não é falso consigo próprio.
Estas forças
catastróficas são o limite do Coletivo, que tanto pode se auto-destruir quanto
surgir a qualquer momento e em qualquer lugar.
Este estado de
suspensão e de nomadismo, caracterizam o Coletivo, que é heterogêneo, não
híbrido.
O Coletivo tem
objetivos claros e surge em função destes objectivos, os quais, não
encaminhados, concorrem para que o Coletivo se dissolva.
Os objetivos do
Coletivo são os objetivos dos indivíduos.
O Coletivo defende
que os indivíduos exerçam o direito de falar e fazer o que quer que seja e
sobre quem quer que seja, seja ele o falante ou o falado, ativos ou passivos no
Coletivo.
O Coletivo não se
importa com o que falam ou fazem, não interessa ao Coletivo a personalidade dos
indivíduos, interessa ao Coletivo as ações coletivas do Coletivo.
Interessa ao
Coletivo que o indivíduo se dedique às ações históricas que são desencadeadas
de forma artística através do Coletivo.
Interessa ao
Coletivo não o que faz o indivíduo mas sim o que este indivíduo faz para que o
Coletivo sobreviva.
Os indivíduos não
precisam se conhecer para participar de um Coletivo, basta que se identifiquem
com as ideias e praxis do Coletivo.
O Coletivo, para
que ele exista, carece do sacrifício dos indivíduos.
São estes
sacrifícios que fundam a ideia do Coletivo.
O Coletivo depende,
logo, defende o indivíduo, logo, o Coletivo vem a ser, muitas vezes, mais
egoísta que o próprio indivíduo, porque, em síntese, o Coletivo tanto exige
sacrifícios quanto dilacera o indivíduo, como se este nada representasse,
independentemente de suas ações (coletivas) anônimas que sustentam o Coletivo.
Mas, no geral, todo
Coletivo é contraditório.
A ideia de Coletivo
remonta às sociedades pré-históricas, quando os seres humanos organizavam-se
socialmente em tribos e clãs, em nome dos quais praticavam a eterna arte da
guerra, motor do desenvolvimento humano.
Já na raiz de uma
sociedade objetivamente estruturada em hierarquias e relações políticas e
religiosas, podemos localizar o Coletivo, mas a ideia de Coletivo, entretanto,
atravessa as organizações que se institucionalizaram.
A ideia de Coletivo
também cresceu com a filosofia comunista, no que ela tem de comum ao
cristianismo primitivo.
Entretanto, os
ideais de igualdade são relativizados na medida em que são individuais os
valores dos quais são construídos os coletivos, o que, necessariamente, torna
todos os Coletivos em praxis contraditórias.
Portanto, o
conceito ou a ideia de igualdade está directamente articulada a possibilidade
que todos têm (se assim o desejarem) de participar do Coletivo (em condições
iguais).
Entretanto, o antagônico
possível, isto é, a impossibilidade ou o não-desejo ou um desejo reactivo à
participação também torna livre o indivíduo, pois que nenhum ser humano é
obrigado a absolutamente nada, faz o que quer, como, onde e porque quer.
Não é esse o espírito
de um Coletivo, obrigar um indivíduo a participar ou a obedecer regras durante
a sua participação no Coletivo.
Por isso o Coletivo
é anárquico.
Todos são iguais,
podem tudo, até mesmo destruir o Coletivo, porque o Coletivo não é uma Instituição,
não é este o seu papel.
Sua ação é efêmera,
entrelaçada, tal qual um vírus.
O Coletivo não tem
diagnóstico nem pode ser catalogado.
Ele é inteligente,
mutável, ora aqui e já ali, e já ali a seguir ou antes, em qualquer lugar.
É o princípio
surreal da aleatoriedade, esta fractalidade virótica.
O Coletivo se auto-estrutura
e se auto-regula no próprio Caos.
Ordena-se por assim
dizer no interior de um choque entre as forças individuais que o compõem e o
sustentam.
E estas forças estão
em luta contínua, pela sua afirmação e/ou destruição.
Uma luta
darwiniana, interior, pela sobrevivência, pelo Poder e pelo fortalecimento de
um sentido Coletivo de sobrevivência deste Poder.
Este Poder migra,
desloca-se, como vírus, oculta-se, disfarça-se, para atacar em zonas desconhecidas,
ainda protegidas pelos códigos de segurança do Sistema Global.
Um vírus que escapa
para danificar o Sistema, um vírus que desestabiliza os códigos artísticos, um
vírus que intervém na cidade para destruir o Sistema tal qual este Sistema se
nos é imposto.
O Coletivo é livre
para pensar e agir.
Enquanto os
indivíduos refletem, escrevem e/ou falam, o Coletivo formula o seu Imaginário.
Enquanto os
indivíduos sonham, o Coletivo constrói o seu Arquétipo.
O Arquétipo do
Coletivo nasce destes sonhos.
Texto: Francisco Weyl
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