Pular para o conteúdo principal

#Carpinteiro "Das pessoas que sonham"



Essa noite eu tive um sonho.
Alguém rondou minha casa, mas não deixou pegadas, apenas rastros e dúvidas no quintal.
Estava deitado, a fumar um cigarro, a digerir poesias do Pessoa, quando, lá pelas duas horas da madrugada, ouvi passos no lado de fora de casa.
Pensei em fazer algum barulho e, dessa forma, demover o visitante da idéia de me invadir, mas não tardei a perceber, que, na realidade, aqueles passos, eu nem os estava a ouvir, embora estivesse a ser visitado.
Traguei o último trago, deitei fora a bagana, perdi-me a olhar a fumaça dissipar-se através da luz da lua, que atravessava cortinas e enchia o quarto com silhuetas e energias confundidas com imagens esquecidas pela casa.
Vivi sensações de minha infância, consumido pelas interpretações das palavras do mestre que mora comigo na minha casa a meio do outeiro .

...

Saltei da cama assustado.

Ouvi vozes e eram milhões de vozes e todas essas vozes eram minhas no meu sonho.

Eu não sou mais eu  a sofrer conflitos de minha alma.

Há um e outros muitos olhos a ver meus sentidos perdidos.

Caminho pelo jardim de casa, sinto o ar da noite, acredito em deuses e pessoas.

...

Eu me persigo, em sonhos, e me afogo, em múltiplas emoções de ser o ser que eu sou.

...

Estou a procurá-lo e ele a me surpreender.

Damo-nos tão bem um com o outro, que nunca pensamos um no outro, mas vivemos juntos como a mão  direita e a esquerda .

...

Eu não sabia o que era o ser que eu sentia no sonho, se anjo ou poeta.

Ao redor dele havia uma luminosidade lilás que irradiava por todo o jardim em torno da casa.

Eu sentia sua vibração e através dela ele me dizia para eu não ter medo.

E então eu abri todos os canais energéticos para recebê-lo em minha alma.

Não o criava nos meus sonhos e nem ele existia.

...

Eu tive um sonho e não sei se despertei deste sonho, entretanto, estou ainda a viver um estado em que a realidade e a imaginação, misturadas, atravessam fronteiras entre si.

Quando sonho, em viagens psíquicas, minha mente flutua por entre imagens de um universo onírico, desconhecido e simultaneamente desvelado.

Os sonhos se realizam quando eu me sinto sonhando e, nesses sonhos, eu sei que eu estou sonhando a partir de uma realidade que eu não sei se é ou não real.

Eu não sonho a realidade porque eu não sei, mas eu sei que a realidade, sonhada, é sonho.

A realidade é um sonho em minha quietude.

...

Desperto.

...

Quando sonho, entre imagens, desvelo sonhos.

Os sonhos se realizam quando sonho.

Nesses sonhos eu sonho a partir da realidade e eu nem sei se ela é.

...

Não sonho a realidade, não sei se sonhada ela é.

Existo nos sonhos para me libertar da realidade e não para tomar consciência dela.

Na realidade sonhos são objetos na ciência.

...

O ser que eu sou tem consciência de não viver.

...
                                               © Carpinteiro de Poesia 
 
  

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A última postagem da Tribuna do Salgado

Independente, combativa, crítica, sem rabo preso, sem financiamentos de partidos e de grupos políticos e empresariais, TRIBUNA DO SALGADO fez um bom combate, mas já cumpriu o seu papel, razão pela qual informo que este projeto editorial deixará de existir, objetivamente, no dia 31 de Março de 2020. O lançamento oficial da primeira edição (impressa) do Jornal TRIBUNA DO SALGADO aconteceu numa sexta-feira, dia 25 de abril (2014), no espaço Adega do Rei, em Bragança do Pará, tendo o projeto funcionado com reduzida estrutura desde a fundação, com algumas preciosas colaborações,   de abnegados amigos e parceiros. De equipe reduzida, sempre foi um David contra os Golias da opressão. Privilegiamos temas como cultura, cidade e comunidade, sem espaços para textos e imagens apelativas como sexo e violência, que infestam como pragas as consciências humanas. Nosso lema, a liberdade de expressão, o respeito à opinião, e à crítica dos leitores, sem, jamais publicar boatos ou acusaçõ...

#CENTENÁRIO “O resgate da associação cultural e desportiva que afirma a Bragança Negra”

Idealiza-se demasiado uma suposta colonização francesa de Bragança, e do mesmo modo, mitifica-se uma Bragança indígena, mas muito pouco se destaca a presença marcante da negritude em Bragança. E apenas quando há referências à tradição da Marujada é que se enaltece mais as heranças do que a matriz negra de São preto, que era de origem etíope. Benedetto migrou de África para Sicília, Itália, onde primeiro esmolou, e entrou pelas portas do convento, para ajudar na cozinha, tornando-se, com o tempo, um Monge-Cozinheiro. E foi uma associação desportiva-cultural, entretanto, que veio a afirmar a força negra na sociedade bragantina. Fundado em 1917, o TIME NEGRA completa 100 anos, com direito a homenagens aos seus ex dirigentes e associados, e a as pessoas que fizeram tanto o esporte quanto o carnaval da entidade. Em sua época áurea, entre os anos 1948 e 1962, o TIME NEGRA conquistou o título de clube mais querido de Bragança, em pesquisa feita pelo Jornal do Caeté. E para isso teve de ...

#DOCUMENTÁRIO "A poeta do Xingu"

“Filme da Série Vozes do Xingu, realizado no âmbito do projeto “Memórias de trabalho e de vida frente à construção de Belo Monte”, e que, sob a coordenação da professora Elizabete Lemos Vidal, da Universidade Federal do Pará, apresenta depoimentos de moradores da Volta Grande do rio Xingu, atingidos pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.