Essa noite eu tive um sonho.
Alguém rondou minha casa, mas não deixou pegadas, apenas rastros e dúvidas no quintal.
Estava deitado, a fumar um cigarro, a digerir poesias do Pessoa, quando, lá pelas duas horas da madrugada, ouvi passos no lado de fora de casa.
Pensei em fazer algum barulho e, dessa forma, demover o visitante da idéia de me invadir, mas não tardei a perceber, que, na realidade, aqueles passos, eu nem os estava a ouvir, embora estivesse a ser visitado.
Traguei o último trago, deitei fora a bagana, perdi-me a olhar a fumaça dissipar-se através da luz da lua, que atravessava cortinas e enchia o quarto com silhuetas e energias confundidas com imagens esquecidas pela casa.
Vivi sensações de minha infância, consumido pelas interpretações das palavras do mestre que mora comigo na minha casa a meio do outeiro .
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Saltei da cama assustado.
Ouvi vozes e eram milhões de vozes e todas essas vozes eram minhas no meu sonho.
Eu não sou mais eu a sofrer conflitos de minha alma.
Há um e outros muitos olhos a ver meus sentidos perdidos.
Caminho pelo jardim de casa, sinto o ar da noite, acredito em deuses e pessoas.
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Eu me persigo, em sonhos, e me afogo, em múltiplas emoções de ser o ser que eu sou.
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Estou a procurá-lo e ele a me surpreender.
Damo-nos tão bem um com o outro, que nunca pensamos um no outro, mas vivemos juntos como a mão direita e a esquerda .
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Eu não sabia o que era o ser que eu sentia no sonho, se anjo ou poeta.
Ao redor dele havia uma luminosidade lilás que irradiava por todo o jardim em torno da casa.
Eu sentia sua vibração e através dela ele me dizia para eu não ter medo.
E então eu abri todos os canais energéticos para recebê-lo em minha alma.
Não o criava nos meus sonhos e nem ele existia.
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Eu tive um sonho e não sei se despertei deste sonho, entretanto, estou ainda a viver um estado em que a realidade e a imaginação, misturadas, atravessam fronteiras entre si.
Quando sonho, em viagens psíquicas, minha mente flutua por entre imagens de um universo onírico, desconhecido e simultaneamente desvelado.
Os sonhos se realizam quando eu me sinto sonhando e, nesses sonhos, eu sei que eu estou sonhando a partir de uma realidade que eu não sei se é ou não real.
Eu não sonho a realidade porque eu não sei, mas eu sei que a realidade, sonhada, é sonho.
A realidade é um sonho em minha quietude.
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Desperto.
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Quando sonho, entre imagens, desvelo sonhos.
Os sonhos se realizam quando sonho.
Nesses sonhos eu sonho a partir da realidade e eu nem sei se ela é.
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Não sonho a realidade, não sei se sonhada ela é.
Existo nos sonhos para me libertar da realidade e não para tomar consciência dela.
Na realidade sonhos são objetos na ciência.
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O ser que eu sou tem consciência de não viver.
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© Carpinteiro de Poesia
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