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#100DIAS “Criadores e fazedores de cultura avaliam gestão cultural no Pará”


Na mensagem que enviou à Assembleia Legislativa do Estado do Pará, em Janeiro de 2019, o governador Helder Barbalho não gastou sequer meia página para tratar da Cultura.

O laconismo não traduz nenhum poder de síntese, ao contrário, revela a escassez de propostas.
Ou seja, o governador reproduz o que as classes dominantes pensam e agem com relação a Cultura quando estão no Poder.
E por isso mesmo, o governador escolheu uma gestora que tem apoio dos históricos segmentos culturais de Belém, e que de certa forma são incluídos nos projetos “desenvolvidos” pelas gestões culturais que se alternaram no Poder, desde Jatene, Ana Júlia, e Helder.
A gestora tem apoio mediático porque vem do jornalismo e se apresentou como o “novo” na política, tendo concorrido, a prefeitura e ao senado, por partidos diferentes, alcançando expressivas votações, cuja densidade lhe permitiu este acordo que lhe assegurou a pasta da Cultura.
Sua entrada em cena causou frisson, com polêmicas e controversas opiniões sobre sua utópica tentativa de mudar por dentro este podre sistema.
Passados CEM DIAS de gestão, convenhamos, a secretaria de cultura do Pará tenta reverter um quadro histórico de abandono e de falta de políticas, sem, entretanto, dialogar com os fóruns representativos das comunidades culturais.
Pontualmente, alguns interlocutores mais próximos conseguem apresentar suas propostas, mas não temos conhecimento de retornos, no campo da democratização da gestão, já que a secretaria continua com sua prática de produzir cultura, e apenas no centro da cidade de Belém.
Excetuando-se acenos, por exemplo, com o Museu do Marajó, desconhecemos outras modalidades de diálogos com os movimentos sociais culturais, periféricos, ribeirinhos, quilombolas, indígenas – sem “dirigismos”, e no âmbito de uma gestão compartilhada.
Sem identificar o “novo” que se anunciara, solicitei a alguns criadores e criadores e produtores culturais que avaliassem os CEM DIAS DE CULTURA, já que a própria gestora ignorou as demandas que lhe fiz a respeito do assunto.
Seguem abaixo as opiniões de mulheres e homens que pensam a Cultura no Estado do Pará:

WIDSON QUEIROZ, escritos: “Vejo como positivo a ação do Governo do Estado e da secretária de Cultura que esteve reunindo no mês de março com os secretários municipais de Cultura do Oeste do Pará e também Com os artistas da região, o encontro fez parte da ação do governo em Santarém. É claro que isso é muito pouco, mas nunca havia acontecido antes, o que alimenta a expectativa que os movimentos culturais da região Oeste terão maior apoio e visibilidade no estado. Contudo, somente boas intenções não serão suficientes para alavancar a Cultura, é preciso comprometimento e recursos. Acredito que no centro regional de Governo do Baixo Amazonas, com sede em Santarém, deveria ser criada uma coordenadoria regional de Cultura para fomentar as ações nessa região do Estado”.

SAMUEL P. CAMPOS, professor: “Em 100 dias, eu não vejo nenhuma diferença, em relação ao governo passado. Posso estar desinformado, mas não vi nenhum projeto cultural sendo apresentado”.

WELLINGTA MACEDO, atriz, militante, mãe, mulher negra, assessora de comunicação, e educadora social: “Minha formação técnica passa por dois anos na Escola de Teatro e Dança da UFPA e inúmeras oficinas no Curro Velho e no antigo IAP (Instituto de Artes do Pará). Realizei trabalhos com o dramaturgo, cantor e compositor Walter Freitas, como atriz no espetáculo “FUNDO REYNO”, Prêmio FUNARTE de Teatro Myriam Muniz, em 2009/2010 e Consultora Cênica em “BANDURRA-EH!”, patrocinado pela OI/ FUTURO, através da Lei Semear, em 2010/2011. Recentemente, participei da oficina da Funarte de “Direção Cênica” coordenada pelo ator e diretor teatral Guti Fraga, fundador do “Nós do Morro”, do Rio de Janeiro. Desenvolvo atualmente dois projetos na área cultural: Um projeto teatral nas Escolas para o público infanto- juvenil chamado “Lulu, a Gata Preta-Desmistificando o Racismo a partir do Mito de Azar nos Gatos Pretos” (que irá virar livro em breve) e apresento um quadro sobre Filmes, histórias e bastidores da sétima arte, chamado “Cinema Livre”, na web rádio “Censura Livre” (vai se tornar um programa). A minha avaliação sobre a área cultural partindo dos 100 dias completos do governo de Helder Barbalho/MDB, tendo à frente da pasta da Cultura, a jornalista Úrsula Vidal, é a de que ainda não há parâmetro algum para avaliar algo que concretamente, não foi feito. Ainda estamos em terra arrasada e basta olhar ao redor para perceber isso. Até agora o que eu vi, li e ouvi, foram promessas e muito oba oba, muita festa, comemoração porque fulano de tal foi convidado para cargo, flores para a Secretária de Cultura, algumas cooptações de certos “radicais” e só. Nesses 100 dias, o “grande” ato político deste governo foi trazer as tropas da Força Nacional para tratar da questão da (In) Segurança da população no Estado. Até foto com a tropa feminina, a Secretária de Cultura tirou. E eu, particularmente, não gostei disso. Eu tenho a compreensão que nosso Estado é rico em sua diversidade cultural, de que nós artistas e fazedores de cultura nunca precisamos das autoridades públicas para expressar nossa arte, sobretudo àqueles que historicamente foram alijados pelo sistema. Mesmo quando não erámos “ouvidos” oficialmente pelo Estado, sempre nos viramos, sempre nos mexemos, sempre produzimos. Mesmo sem grana, mesmo com fome, mesmo com escombros caindo em cima da gente. Partindo dessa premissa, eu entendo que o maior Patrimônio Cultural de um Estado é seu Povo. E o nosso povo está desassistido, abandonado, jogado às margens, em todas as áreas, sobretudo na Cultura que continua tendo um olhar de gabinete, de ambientes refrigerados, um olhar elitista e branco ainda que travestido de um discurso “de chamar os movimentos, os coletivos para conversar”. Isso é IMPORTANTE, mas será que TODOS SERÃO REALMENTE OUVIDOS OU APENAS ALGUNS? E depois, na minha avaliação, só ouvir nossas reivindicações, choros e pedidos não basta quando se tem um orçamento ínfimo para a área cultural. E uma visão ainda baseada na política de editais, onde sempre quem tem um currículo “melhor” e obedece a “certos requisitos”, é privilegiado em relação aos demais. É necessário AÇÃO. Necessário respeitar os artistas. TODOS OS ARTISTAS. Conhecidos e anônimos. E RESPEITAR O POVO. RESPEITAR QUEM FAZ E FEZ A HISTÓRIA CULTURAL NESSE ESTADO. Já se passaram 100 dias!”

PAULO MARAT, ator: “Depois de um período negro em que os artistas do meu ofício ficaram sem serem ouvidos e completamente afastados das decisões governamentais, se recriando para permanecerem ativos, acredito que exista hoje uma possibilidade de reverter essa situação. As convocações para diálogos da secretaria e a sociedade Civil é um exemplo. A mostra de teatro, mesmo com suas falhas, mostraram que a vontade de fazer diferente é forte. As chamadas para ouvir segmentos é muito importante. O dinheiro ainda é pouco, pois está amarrado ao orçamento votado no ano passado. É o momento da categorias se unir"banir os egos", entender os processos para então ter uma participação mais representativa. O interior é quem mais precisa dessas políticas públicas. Escultar, organizar e estudar, são os primeiros passos a serem dados. Reclamar apenas é fácil. Firmar-de como cultura, com bases fortes, são munições eficazes de uma longa batalha. Recuperar público é a maior das batalhas. Por isso, parabéns pra que continua praticando seu ofício”.

SANDRA PERLIN, atriz: “Em relação ao governo de Jader Barbalho: não posso falar pela cultura e pela arte de um modo geral porque ainda não sei de outras áreas da arte, mas em breve começarei a saber, no entanto posso falar pelas cênicas. A situação melhorou, e friso que é em relação ao passado e pelo que passamos todos esses anos, onde o governo na figura do Sr Paulo Chaves, além de não nos apoiar em nada, ainda fazia questão de nos destruir. Então, já participei de alguns encontros, percebo boa vontade, principalmente de Adriano Barroso, Que é um colega de ofício. Já tivemos um festival, cuja figura inspiradora foi a Nilza Maria, e , salas de ensaio disponibilizadas para espetáculos. Aponto as coisas interessantes, e mesmo dentro dessas existiram problemas, muitos, mas acredito que agora pelo menos temos um canal de diálogo. Estou otimista”.

LUÍS ARNALDO CAMPOS, realizador; “Estou voltando para Belém , agora, depois de dois anos de Rio de Janeiro , então, não posso falar muito mas algo que quero ressaltar e sobre a urgência de se elaborar uma politica para o setor audiovisual, com a participação de todos os artistas e técnicos. Apesar da Caixa de Pandora aberta sobre o pais e possível o governo estadual se comprometer efetivamente com o fomento da produção paraense. para o cinema e a televisão. Mas para isto e preciso que o governo estadual tenha o entendimento de que a cultura não e apenas um penduricalho do aparato governamental mas sim a luz que nos faz paraenses. E em segundo lugar a mobilização da classe para defender os avanços do sistema Ancine- FSA , sem prejuízo dos aperfeiçoamentos necessários- contra os ataques que vem sendo desferidos pelos esbirros do fascismo no poder”.

 BRUNO MALHEIRO, historiador: “Oi Francisco, agradeço muito a confiança e acho fundamental refletir sobre a política cultural do Estado principalmente nesse novo contexto e governo. Agora no meu caso eu estava afastado para o doutorado, cheguei a duas semanas em Marabá então, embora tenha uma leitura superficial das ações e ausências da política cultural seria um tanto irresponsável da minha parte emitir uma opinião sem conhecer a fundo do que falo. Espero que compreenda, prefiro aterrisar e ficar a par de tudo para refletir”.


Fonte © Francisco Weyl, Diretor/Editor da TRIBUNA DO SALGADO / Jornalista DRT-Pa 2161



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