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“Matar bandido que mata polícia é cometer outro crime e não solucionar nenhum dos dois” (Carpinteiro de Poesia)


Compreendo as adversidades e complexidades dos cenários das operações policiais, mas, normalmente, quem mata polícia, trabalha para o crime organizado, dentro do qual, atuam milicianos agregados a prestadores de serviços de segurança em geral, e/ou ex-policiais, e/ou ex-agentes de segurança, que se auto-organizam, e/ou que são "contratados" - para executar estes tipos de crimes pelo qual são financiados e em nome do qual (individualmente),o assassino "cresce" de status, dentro de seu grupo, e no espectro mítico da "bandidagem", fazendo seu nome ser projetado como um matador especial.

Atacados, o instinto de vingança e o espírito da corporação militar são logo despertados, gerando-se uma onda de matanças principalmente nas periferias, onde habitam pessoas excluídas de direitos sociais e econômicos, entretanto, matar um assassino (de polícia) como resposta, é um equívoco, na medida em que se elimina uma fonte pela via da qual se poderia chegar aos demais responsáveis e até aos seus mentores e financiadores. Bandido vivo pode ser útil a fornecer pistas de seu grupo e líderes.

A polícia precisa definir estratégias, e seguir linhas de investigações que lhe coloquem no campo de guerra de diversos grupos e facções que controlam bairros e produzem violências dos mais diversos tipos, e não ficar à deriva na tempestade, sendo jogada de um lado para outro e até mesmo contra si, quando expõe seus agentes sem estruturas para o combate ou quando permite ações que extrapolam os limites da legalidade no afã de "resolver" os problemas de segurança pública.

Despreparados intelectual e psicologicamente e submetidos a condições de trabalho que são tensas e sem receber salários condizentes, os policiais habitam os mesmos bairros que os traficantes, e são visados por estes, pelo que urge uma reversão nesta engenharia do próprio sistema, que precisa formar o militar e renovar imediatamente seus quadros, afastando da corporação aqueles que estão envolvidos em denúncias que maculam a Instituição, que tem de se preservar, na sua integridade, ao mesmo tempo em que qualifica o apoio da sociedade que sempre lhe prestigiou.




A recente orientação para que os soldados não se exponham à Mídia e a centralização das informações sobre segurança e crimes em geral nas mãos de especialistas da Polícia poderá ser uma medida educativa e social se a Imprensa cumprir a sua parte e abandonar a opção pelo sangue e pelo pânico, e passe a informar sem condenar antecipadamente os suspeitos, evitando assim a proliferação de boatos e a geração de sentimentos que não ajudam o fortalecimento psicológico da sociedade neste momento de crise do sistema de segurança.

Compreendo que a medida que mexe na relação da PM com a Mídia pode ser benéfica se as informações forem qualificadas e transparentes e se a PM passar a ter ação direta com as associações de moradores e entidades que atuam em bairros periféricos, onde o Estado não chega com ações e direitos, ou seja, sem a mediação de consultores e de analistas, mas na audição direta com quem sofre violência cotidiana e que sabe de suas reais necessidades, dentro de uma dimensão de que a maior violência é a do próprio Estado, que, propositalmente, faz apologia ao caos social, optando pela inércia e ausência de políticas estratégicas, lançando ações imediatas cujo impacto tem espaço na Mídia sensacionalista que estimula o pânico e a ignorância mas que não altera rigorosamente as relações humanas nas comunidades.

Texto ©Francisco Weyl (Jornalista / DRT - 2161)


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