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#CICLO “Viúva Negra Bar fecha portas no dia do aniversário de Bragança do Pará”


Três anos após a sua fundação, o Viúva Negra Bar encerra suas atividades na noite deste domingo, 8 de Julho de 2018, exatamente na data do aniversário de Bragança do Pará, 405 Anos.
O espaço foi refúgio de muitas comunidades abertas, principalmente LGBTs.
E abrigou dezenas de shows e festas, alternativos, do rock ao carimbo, do funk ao carnaval.
O bar funcionou em dois locais, no bairro da Aldeia, próximo a UFPa, durante cerca de um ano, mudando-se depois para a Orla, onde funcionou até a data de hoje, 8 de julho de 2018.
A mudança tornou-se necessária por causa do crescimento do movimento gerado pelo bar que não se limitou a vender cervejas e fazer festas.
Além do entretenimento, a questão política também caracterizou o “Viúva Negra”, que pautou diversos debates e recebeu muitas ações culturais.
O próprio Festival Internacional de Cinema do Caeté – FICCA desenvolveu ações no bar.
Além do FICCA, diversos professores e criadores culturais promoveram cenas no Viúva, entre estes Arthur Leandro, que fez a culminância de sua disciplina do PARFOR, com a performance “Égua de 4”.
Mulheres e LGBTs fizeram rodas de conversas e organizaram muitos encontros para trocas de ideias, mostra e vendas de livros, artesanatos, roupas, e objetos culturais.
Algumas vezes, o bar também foi bastante denunciado por vizinhos que reclamavam do barulho das festas, razão pela qual seus proprietários tiveram de prestar esclarecimentos à Polícia.
Pela sua forma extrovertida e aberta, o “Viúva” viveu momentos difíceis, em consequência do preconceito de alguns habitantes de Bragança, que não entendiam muito bem qual era a proposta do bar.
À revelia destes obstáculos, o bar fez história, cresceu, teve seu apogeu, tornando-se point e parada obrigatória da noite bragantina.
E de forma diferenciada, tinha uma postura de combate ao assédio contra mulheres, à homofobia, ao racismo, e à violência, tanto é que proibia a entrada de homens que se envolviam em tais situações no interior do espaço do “Viúva”.
E o “Viúva” também  ensaiou uma incursão à praia de Ajuruteua, com um albergue, que funcionou durante o mês de julho de 2017, reunindo muitos de seus frequentadores, além de diversos turistas.
Um aspecto a ser destacado e que não pode passar despercebido pelo “Viúva” é que o bar gerou renda e trabalho para diversas pessoas, além de abrir espaços para o surgimento de DJs no Município.
Alguns dos trabalhadores da noite que se destacam em Bragança começaram suas atividades no Viúva Bar.
Ao comentar o fechamento do espaço, sua criativa proprietária, a empreendedora cultural Moema Moura, afirma que pretende fazer outras atividades fora da lógica do mercado.
Irrequieta e simpática, ela iria vender a marca para outro empreendedor cultural, que à última da hora, desistiu do negócio, mas que, entretanto, vai ocupar o espaço onde funcionou o “Viúva” com outro bar, segundo ele, com as mesmas características.
Moema informa que vai dar um tempo da noite e que ainda está a pensar no que vai fazer daqui para frente.
Enquanto isso, ela vai aproveitar este momento para meditar e mergulhar em sua alma, a qual tem-se voltado mais para a natureza e seu próprio interior.

Nota do Editor – Com o fechamento do “Viúva Negra Bar”, Bragança contabiliza a perda de mais um espaço cultural alternativo. O concorrente mais próximo do “Viúva”, era o “Espaço Cultural Vacaria Club”, que funcionou por cerca de 4 anos, mas fechou suas portas há dois anos, com a viagem de sua proprietária para Paris, França.
Semelhante ao “Viúva”, mas com público diferenciado, o “Vacaria” também amargou denúncias de vizinhos descontentes, mas mesmo assim seguiu seu trajeto e ocupou seu espaço, com cenas artísticas, debates, cineclubismo.
Mais que "bares" na extensão do conceito, o “Espaço de Cultura Vacaria Club” e o “Viúva Negra Bar” se constituíam em espaços abertos aos movimentos sociais e culturais, que agora se ressentem desses lugares de encontro, nos quais possam, além de trocar ideias, revelar seus jeitos de ser, de forma livre, sem preconceitos, criando-se a partir daí novos processos , projetos, e empreendimentos, em diversos segmentos, que se desdobravam em outras áreas do Município, e não apenas nesta geografia, ampliando este lado específico de uma Bragança #DIVERSA pela sua própria natureza, mas também acolhedora, que sabe criar e se divertir.
Sem o “Espaço de Cultura Vacaria Club” e o “Viúva Negra Bar”, pessoas de cabeça, coração & alma abertos estão neste momento sem opções “fora do eixo”, em Bragança do Pará, cidade marcada pelo conservadorismo eclesiástico, e pela ausência de políticas públicas que respeitem e incluam as comunidades periféricas nas cenas culturais, mas com pontuais ações sazonais, folclóricas, nas quais são "investidos" e desviados muito dinheiro público.
Meses após o fechamento do “Vacaria”, outro bar, denominado “Mundo de Alice”, ainda tentou, mas não decolou firmar seu espaço na cena alternativa de Bragança, fechando suas portas em menos de um ano.


Texto © Francisco Weyl (Jornalista DRT 2161)



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