Onde tem a miséria e a violência, lá estarão as mãos
sujas de sangue do Estado.
Onde tem a ignorância e o preconceito, lá estará a educação
ideológica do Estado.
Onde tem a soberba e a corrupção haverá Estado.
E onde houver ódio e hipocrisia encontraremos o Estado.
O Estado é a construção moral de uma idealidade projetada
pelos pobres de espírito e pisada pelos parasitas burgueses que serão
derrotados pela História.
Eu sempre disse que a expressão Juiz corrupto é redundante.
Os magistrados criam um sistema de proteção
das castas cujo Poder Econômico lhes paga e cujo estatuto social lhes favorece.
Onde tem a Justiça, tem um operador que a burla de diversas
maneiras para que os demais sejam enganados e ele próprio seja o esperto da
ocasião.
Onde tem a Justiça, há um preto e uma bicha condenados e
assassinados, enquanto os brancos estão soltos.
E onde a Justiça fraqueja, ali será a moradia dos rebeldes,
questionadores desta lógica perversa do capital que cega e aliena o ser de sua
própria realidade.
Eu sempre digo que os direitos devem se iguais para todos,
mas como eles são materializados pelo mercado, a minha utopia fica sem sentido.
Movo-me na direção do coletivo mas quando muito encontro indivíduos
interessados em pagar as suas contas e por diversão fornicar.
Sinto que a tecnologia depessoalizou os desejos tornando-os
superficiais e manipulados pelas publicidades que estimulam um consumo
desnecessário e um padrão de vida irreal.
Nasci no século passado, e, ainda, muito analógico, gosto de
poesia, e de filosofia, mas tenho tido dificuldades de encontrar amigos que
troquem comigo estes diálogos que retiram minha alma de meu corpo e me elevam
os graus da intelectualidade, e de minha psique.
Dei de falar sem que as pessoas me entendam, é, parece que
não sou deste mundo, e, não tendo coisas interessantes a dizer, procuro ao
menos fazê-las interessantes nas minhas práticas.
E não sou deste mundo, nem de mundo nenhum, quando muito, o mundo
da utopia que se desprendeu da ação, impregnando-se de teorias que não se
aplicam as sociedades.
É este o mundo dentro do qual movimento meu corpo, mas meu
cérebro já vai bem ali adiante.
Sinto que o cristianismo e as análises que fiz com os
psicólogos me tornaram um ser resignado, eis que a velhice chegou, já não tenho
mais ataques histéricos nem me transtorno com o contraditório.
Quem quiser ou tiver de ser o ser que é, que assim o seja,
pois que isso, tem força.
É, porque tem força de ser, digo eu.
Sempre me relacionei melhor com as pessoas da direita do que
as da esquerda.
Sempre trabalhei melhor com pessoas que não eram
amaldiçoadas pela ideologia delas.
Mas gosto mesmo daqueles para os quais a História não está
pautada como uma determinação, e que por isso mesmo não se fundam em paradigmas
que estabelecem as suas formas de ser, se gente ou bicho, homem ou mulher,
coisa ou fenômeno, objeto ou signo.
Continuarei na contracorrente das estrelas cósmicas, até ao
apagamento dos sistemas.
Serei solidário com a
natureza humana e animal e vegetal e mineral e mais aquelas as quais eu
desconheça, e jamais terei medo do que quer que seja, e de como as
pessoas são ou desejam ser.
E rezarei todos os dias pai nosso e avemaria.
Venho dos interiores do mato, dos lagos, e dos igarapés, e
das periferias, dos bairros dos subúrbios, estudante de escolas públicas.
E frequentei carros-bibliotecas, nas ruas e praças da Marambaia,
onde já não moro, mas de onde jamais retirei a minha alma, desde quando a família
migrou de Bragança para Belém, fixando morada , curiosamente, na Rua da Marinha.
Venho do Caeté, das croas para onde – meninos – atravessávamos,
venho das mangueiras da Aldeia, venho de
volta para o lugar que me colocou no Mundo.
Mas, não sou nem nunca serei cidadão do mundo.
Sou daqui de Bragança.
E da Marambaia.
Mas, amo Portugal.
E Cabo Verde.
Serei eu sereia?
Texto © Francisco Weyl
Foto © DRI TRINDADE
O
autodenominado Carpinteiro de Poesia (e de Cinema), poeta, realizador,
cineclubista, e professor de arte, estética, filosofia, e cinema, Francisco
Weyl, é Mestre em Artes (2014), e Especialista em Semiótica (2003), pela
Universidade Federal do Pará UFPA; e graduado (Bacharel) em Cinema e Vídeo
(Escola Superior Artística do Porto - ESAP / Portugal - 2001); ministrou aulas
no ensino superior em Cabo Verde (Universidade Jean Piaget de Cabo Verde -
UNIPIAGET-2005/2006/2007), e no ensino médio, em Portugal (Escola Profissional
da Região do Alentejo - EPRAL /2000). Foi professor de Antropologia da Imagem
no Mestrado do curso de Antropologia, na UFPa (2012); e na pós-graduação
de Arte Fotográfica Digital
Estácio/Iesam (2015), e ainda ministrou aulas de Estética, Filosofia, e
Metodologia de Pesquisa em Artes no Parfor Ufpa 2017. Atualmente, como jornalista,
dirige e edita o Jornal Tribuna do Salgado, em Bragança, Pará, onde também
coordena projetos educativos de intervenção artística e social que provocam a
criação de coletivos, como o FICCA - Festival Internacional de Cinema do Caeté;
e o Sarau da Lua Minguante. Escreveu e publicou artigos científicos e
jornalísticos, dentro e fora do país, Lançou três livros - edição de autor,
todos em Portugal (Diário de Naufrágio - 1999 / Virgens Viragens - 2000; e
Chapéu do Metafísico - 2001). É ativista em redes sociais, presenciais e
virtuais. Mora em Bragança, Avenida Marechal Floriano Peixoto, 1613, Centro,
telefone: 91 - 98847-7777. Marujeiro associado a Irmandade de São Benedito de
Bragança, ocupa ainda a cadeira número 35 da Academia de Letras do Brasil - ALB,
Seccional Bragança, entidade da qual é também presidente-executivo regional, e
pela via da qual foi reconhecido como Doutor Honoris Causa . (Plataforma
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2981504017682094)
Comentários
Postar um comentário