Pular para o conteúdo principal

#CULTURA "Difusora do Carimbó organiza festa do Círio de Nazaré em Lisboa"

Pessoa dotada de consciência social e que assume a sua história sem negar as suas raízes, é a mais importante difusora do Carimbó, além-mar.
Feminista, ativista política de esquerda, combate o neoliberalismo e tem na cultura popular sua principal trincheira.
E por isso já se tornou referência na produção de eventos multiculturais, nos quais as manifestações tradicionais entram em sintonia com o classicismo e a modernidade do Velho Continente.
Graduada em Letras pela Universidade Federal do Pará, Bebel Luz, 40, trabalhou por 10 anos na Secretaria de Cultura do Estado do Pará e hoje finaliza o Mestrado em Cultura e Comunicação na Universidade de Lisboa, onde reside há quatro anos.
Bebel mantém viva a sua produtora Amazon Black (cujo logo é uma negra rodeada por flores), onde realiza dois projetos, a BalacoBlack (primeira banda de blackmusic brasileira em Portugal), e a Amazônica, festa que ela organiza todos os meses em diversos espaços culturais e casas noturnas de Lisboa, com música, cinema e gastronomia da Amazônia.
Em suas produções, também reúne DJs (entre estes Caio Azevedo) que executam cumbia, lambada, merengues, carimbó, soul, funk, e outros ritmos africanos, latinos, caribenhos.
Os portuga pira, os brazuca endoida, e os gringo vão à loucura.
Ninguém fica parado nas festas onde são servidos shots de cachaça de jambú (na verdade, a cachaça é “com” jambú, uma erva exótica paraoara, de origem amazônica,  e que faz adormecer e tremer os lábios quando a ingerimos),  além de pratos e iguarias tropicais características da cozinha paraense (indígenafro), como a maniçoba, o pato no tucupi, e o vatapá.
Com sua saia de chita, a produtora Afro-índia, que é reconhecida por sua capacidade de agregar a comunidade paraense e amazônica em Portugal, entra na roda e, mostra como se dança o Carimbó do Pará, ao som do grupo Mundiá, banda residente do projeto.
Cultura, ritmo, e dança, o Carimbó é um gênero de roda de origem indígena, miscigenada com o branco português (palmas e sopro) e o negro africano (tambor, ritmos), provavelmente, surgido no Século XVII, e que se tornou patrimônio cultural imaterial brasileiro.
Também chamado de pau e corda (tambor e banjo), chegou a ser proibido em 1800, mas foi incorporado à cultura pop-music nacional, tendo como expressão radical os mestres populares, entre estes Verequete, e faz sucesso hoje na voz da inconfundível Dona Onete.
Termo popular e regional amazônico, associado ao movimento de rotação da Terra, e que também significa encantar, enfeitiçar, entorpecer, Mundiá batiza o nome do um grupo de Carimbó formado por paraenses que atuavam na Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro.
Com a mudança para Portugal de alguns membros do grupo, deu-se origem a um núcleo no formato de trio: banjo, flauta, e curimbó, que é o nome do tambor no qual se executa o carimbó.
Quando o Mundiá se apresenta, brasileiros, portugueses e turistas de todas as partes do mundo entram em transe, numa simbólica evocação e comunhão tribal e ancestral, cujos espíritos são imediatamente captados pelos corpos que não conseguem ficar parados nas festas.
Para se ter ideia de seu percurso, Bebel inclusive organizou um encontro de paraenses durante o Círio de Nazaré, em 2017, com direito às “Filhas da Chiquita” (Documentário da paraense Priscila Brasil), projetado logo após à transmissão ao vivo da maior romaria religiosa do planeta, que reúne mais de dois milhões de pessoas nas ruas de Belém do Pará.
A festa-catarse amazônica e paraense tem a sua versão portuguesa com as famílias a se reunir ao almoço, numa cena que mexe com os corações e mentes não só dos devotos de Nossa Senhora de Nazaré, como de toda a gente.
Na edição de 2018, o almoço do Círio organizado por Bebel Luz ocorreu no dia 14 de outubro, na Casa  Mocambo (galeria de arte, sala de concertos e restaurante de fusão Afro-Lisboeta), que fica na Rua do Vale de Santo António nº 122ª, Lisboa, com direito à maniçoba, mousse de cupuaçu, suco de frutas tropicais como taperebá e manga, cinema e roda de carimbo.

Francisco Weyl
Porto, Setembro, 2018



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A última postagem da Tribuna do Salgado

Independente, combativa, crítica, sem rabo preso, sem financiamentos de partidos e de grupos políticos e empresariais, TRIBUNA DO SALGADO fez um bom combate, mas já cumpriu o seu papel, razão pela qual informo que este projeto editorial deixará de existir, objetivamente, no dia 31 de Março de 2020. O lançamento oficial da primeira edição (impressa) do Jornal TRIBUNA DO SALGADO aconteceu numa sexta-feira, dia 25 de abril (2014), no espaço Adega do Rei, em Bragança do Pará, tendo o projeto funcionado com reduzida estrutura desde a fundação, com algumas preciosas colaborações,   de abnegados amigos e parceiros. De equipe reduzida, sempre foi um David contra os Golias da opressão. Privilegiamos temas como cultura, cidade e comunidade, sem espaços para textos e imagens apelativas como sexo e violência, que infestam como pragas as consciências humanas. Nosso lema, a liberdade de expressão, o respeito à opinião, e à crítica dos leitores, sem, jamais publicar boatos ou acusaçõ...

#CENTENÁRIO “O resgate da associação cultural e desportiva que afirma a Bragança Negra”

Idealiza-se demasiado uma suposta colonização francesa de Bragança, e do mesmo modo, mitifica-se uma Bragança indígena, mas muito pouco se destaca a presença marcante da negritude em Bragança. E apenas quando há referências à tradição da Marujada é que se enaltece mais as heranças do que a matriz negra de São preto, que era de origem etíope. Benedetto migrou de África para Sicília, Itália, onde primeiro esmolou, e entrou pelas portas do convento, para ajudar na cozinha, tornando-se, com o tempo, um Monge-Cozinheiro. E foi uma associação desportiva-cultural, entretanto, que veio a afirmar a força negra na sociedade bragantina. Fundado em 1917, o TIME NEGRA completa 100 anos, com direito a homenagens aos seus ex dirigentes e associados, e a as pessoas que fizeram tanto o esporte quanto o carnaval da entidade. Em sua época áurea, entre os anos 1948 e 1962, o TIME NEGRA conquistou o título de clube mais querido de Bragança, em pesquisa feita pelo Jornal do Caeté. E para isso teve de ...

#DOCUMENTÁRIO "A poeta do Xingu"

“Filme da Série Vozes do Xingu, realizado no âmbito do projeto “Memórias de trabalho e de vida frente à construção de Belo Monte”, e que, sob a coordenação da professora Elizabete Lemos Vidal, da Universidade Federal do Pará, apresenta depoimentos de moradores da Volta Grande do rio Xingu, atingidos pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.