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#MEMÓRIA “Um ano sem a poeta Cirene Guedes”

Bragança > 11/08/2016

Muito difícil falar sobre a pessoa e a poeta Cirene Maria da Silva Guedes.
Difícil, mas não impossível.
Cirene vem a ser prima de minha mãe, Dona Josefa, tendo sido com ela criada, pelo que, na verdade, era uma espécie de filha mais nova de mamãe.
Eu sou o mais novo dos irmãos, e cresci e me criei em Belém, desfrutando sempre das férias com o Padrinho (Odorico), e a Vovó (Augusta),  e uma distante tia Cirene.
Aqui em Bragança, procurei me aproximar mais de titia, e de ouvir os seus causos e as suas histórias.
Tia Cirene escrevia poemas, canções.
Era rápida também para recordar cada um dos próprios versos que acabara de criar.
Seus olhos sempre a brilhar.
A sua sagacidade em querer saber e emitir opinião, vibrantes.
Sem falar no refinado senso de humor, mesmo quando estava mal humorada ou doente.



‪Tia Cirene – como nós,  os Weyl, sobrinhos, a chamávamos - foi internada no Hospital das Clínicas numa terça-feira (11/08/2015).
Na tarde de segunda (10/08/2015) havia sido fotografada por #DRITRINDADE (diretora de arte e fotógrafa da #TS) com vistas ao lançamento de seu livro ('Poemas molhados, na sexta-feira (14/08/2015).
Quando foi transferia de Bragança (15/08/2016) estava lúcida, contava causos, esperançosa com o livro.
Entre os motivos que a teriam levado a falecer,  o tabagismo, a diabetes, princípio de pneumonia, perda de líquido pela urina, e perda de sangue, paradas cárdicas, infecção generalizada, e suspeita de um tumor no útero.
Tinha 74 anos quando morreu no dia 16 de agosto de 2016.
Nasceu em 24 de novembro de 1941, em Tentugal (hoje, Santa Luzia).
Filha de Severino Guedes de Araújo e Laura Alves da Silva.
Criada pelos tios Odorico Alves da Silva e Maria Augusta Alemida e Silva, meus avós materno.
Autodidata, aprendeu inglês, sozinha, e traduzia as notícias para a Rádio Educadora, onde era radialista-colaboradora.
Passou pelo Convento, foi professora e bancária durante anos.
Perdeu a filha Laurilene Guedes por erro médico, sucumbiu a uma dor infinita desde então.
E criou Edilelza Gercina e seus filhos-netos, Jesiel Júnior, e Amanda Quadros.
Morava sozinha e tinha de dar conta de uma série de questões que somente ela própria sabia como deveria proceder, a bem do bem daqueles que dela dependiam diretamente.
Sua obra é um tesouro de nossa cultura, ao serviço da História da Literatura bragantina, paraense e mundial.
Curiosamente, morreu dois dias após o lançamento de seu único livro (“Poemas Molhados”, editado pela Academia de Letras e Artes de Bragança – ALAB), ao qual nem compareceu porque já estava hospitalizada.
Na ALAB, Cirene ocupava a cadeira Nº 6, que tem como patrono é Dom Eliseu Maria Coroli.
Mas a Academia ameaçou e não lhe prestou tributos.
A poeta entretanto foi homenageada pelo Sarau da Lua Minguante.
E agora a Pastoral da Juventude do Perpétuo Socorro lhes rende homenagens num Sarau programado para 20 de agosto.
Além dos 400 poemas molhados, deixou cadernos, cartas, rabiscos, e muitas memórias vivas nas narrativas das diversas pessoas que a conheceram e que a imortalizam cada vez que falam sobre ela.
Tia Cirene vive em cada uma das pessoas que a amavam.
Quando vão falar sobre a titia,cada uma das pessoas constrói uma nova mulher.
É o poder de sua arte e de sua poesia.

Fonte © #TRIBUNADOSALGADO (Texto Francisco Weyl / FOTOS #DRITRINDADE)

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