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#ARTIGO > Sobre patronos e acadêmicos imortais (Por Francisco Weyl, da Acadêmia de Letras do Brasil - Seccional Bragança)

A cadeira de número 35 da Academia de Letras do Brasil – Seccional Bragança é ocupada pelo bragantino Francisco Weyl. O acadêmico viveu e produziu intensamente no Brasil e em Portugal, Itália e Cabo Verde. Nesses países, ele coordenou projetos de natureza coletiva e atuou intensamente na cena artística, política e social. A cadeira 35 tem como patrono um ilustre cidadão brasileiro nascido em Jardim, Ceará, a 25 de novembro de 1865, Raimundo Ulisses de Albuquerque Pennafort, que, aliás, é também patrono da cadeira n° 32 da Academia Cearense de Letras.
Intelectual reputado como um dos mais inteligentes quadros da Igreja Católica brasileira, Pennafort foi romancista, contista, ensaísta, etnólogo, memorialista, e poeta.
Filho Do Capitão Manuel Francisco Cavalcante de Albuquerque e de Dona Generosa Cândida Brasil de Albuquerque Pennafort, Raimundo Ulisses de Albuquerque Pennafort morreu jovem, aos 56 anos, em Belém, 25 de abril de 1921.
A homenagem que lhe presta o imortal bragantino deve-se ao fato deste ter crescido a ouvir o nome deste intelectual e religioso em sua própria casa, através das falas de sua mãe, Dona Josefa Weyl, que vem a ser sobrinha-neta de Pennafort. Além da Dona Josefa, Weyl é filho de José Raimundo Albuquerque Costa.
De estatura mediano-alta, tez clara, cabelos crescidos em coma de caracóis, porém não bastos, Pennafort usava óculos ou pincenez, presos por torção que pendia até o peito. Era um homem robusto, de fisionomia enérgica, face enrugada e um ar de acentuada severidade, entretanto, de expressão bondosa.
Weyl é Mestre em Artes (2014); Especialista em Semiótica (2003), pela Universidade Federal do Pará; Graduado (bacharel) em Cinema e Vídeo (Escola Superior Artística do Porto - ESAP / Portugal - 2001), tendo ministrado aulas no ensino superior em Cabo Verde (Universidade Jean Piaget - UNIPIAGET-2005/2006/2007) e no ensino médio em Portugal (Escola Profissional da Região do Alentejo - EPRAL/2000).
Autodenominado Carpinteiro de Poesia, Francisco Weyl realizou dezenas de filmes em todos os formatos, alguns dos quais premiados internacionalmente (O seu filme de longa-metragem “O Nome da Coisa Nada” recebeu Menção Honrosa em Cuba, em 2006, e o seu curta-metragem “O Chapéu do Metafísico” recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival Internacional de Cinema do Porto – Super 8”, em 2007), .
Weyl é também articulista, tendo atuado e colaborado em vários jornais e revistas impressas e eletrônicas e em emissoras de TV, dentro e fora do Brasil, como “Liberal” (Cabo Verde); “Vanguarda” (Amapá), jornal “A Província do Pará” e TV Cultura do Pará. Além de jornalista e escritor, é poeta e amante da poesia, cineclubista e professor de arte, estética, filosofia e cinema. Tem cinco livros publicados (Edição de Autor), três destes em Portugal (“Diário de Naufrágio”, 1998; “O Chapéu do Metafísico”, 2000; e “Virgens Viragens”, 2001), E-Bocks e textos dispersos em coletâneas e pelas redes sociais das quais é grande dinamizador e polemista. Atualmente, como jornalista, o acadêmico dirige e edita o Jornal "Tribuna do Salgado", em Bragança, Pará, onde também coordena o Festival Internacional de Cinema do Caeté – FICCA, o Projeto “Sarau da Lua Minguante”.
Ao homenagear o Cônego Raimundo Ulisses de Albuquerque Pennafort como patrono de sua cadeira, o acadêmico Francisco Weyl faz um resgate à história de sua terra natal, onde este ilustre cidadão foi grande educador, sacerdote e jornalista abolicionista convicto.
Intelectual e jornalista, Pennafort escrevia bem e se dedicava aos seus estudos e à causa abolicionista. Vez por outra, apareciam nas folhas de Belém, artigos seus, bem documentados e longos de preferência sobre etnografia indígena.
Foi correspondente da "Academia Cearense de Letras" e "Union des Associations de la Presse Ibero- Americane", membro cooperador salesiano do Instituto D. Bôsco de Turim e Niterói, sócio correspondente da Arcádia Fluminense e da Arcadis Romana, do instituto paraense da Mina Literária, também do Pará, da Iracema Literária do Ceará, da Academia Poliglota da Itália, e da Societé Asiatique dês Langues Orientales Vivantes de Paris.
Pennafort dirigiu o jornal "O Zuavo", e, posteriormente, "O Caetense" de 1885 a 1889, em Bragança. Foi também redator de dois outros jornais "O Século XX" e "O Guajará", em Vigia, cidade paraense, da qual foi vigário. No município de Maracanã, dirigiu também "A Tuba", órgão que se tornou importante na associação Arcádia Americana, da qual Se tornara Reitor.
Entre os trabalhos intelectuais e a religião, Ulisses Pennafort viveu intensamente, tendo deixado no seu acervo de homem de pensamento, uma longa lista de trabalhos, ensaios e estudos, muitos dos quais publicados:
i. “Ecos D'Alma” (1881);
ii. "Monsenhor Pinto de Campos" (Estudo biográfico-literário publicado no jornal "O Caetense", durante os anos de 1884 a 1885);
iii. “A Igreja Católica e a Abolição” (1884);
iv. “Os Retirantes” (1887 – Poemeto em que tracejou sofrimento extraordinário dos seus coestaduanos, que se vêm periodicamente acossados pelo flagelo das secas que lhes obrigam a deixar o torrão natal para procurar a vida melhoramente, em plagas amazônicas);
v. “Os Esplendores do Culto Mariano” (1890);
vi. “O Novo Morto Imortal ou Memória Monógrafa dos Grandes Méritos e Atos Ilustres do Arcebispo Dom Antônio Macedo Costa - O Apóstolo D'Amazônia” (1892 - Discurso Ontológico);
vii. “Cenontologia ou ensaios de sciencia e religião”. (Publicado pela Editora Pará, Via Typografia Pennafort, com encadernação de Pinto Barbosa, em 1894. Trata-se de uma
viii. Conferência de longas divagações filosóficas, por ocasião da inauguração do Paço Municipal de Marapanim);
ix. “Memorial synoptico sobre a glorificação do Padre Antônio Vieira” (Publicado pela Editora: Maracanan, Pará, via Typologia Pennafort, em 1897. Trata-se de um Conto que imaginou e escreveu sobre um assunto fornecido pelas secas e o martírio de sua população, que sempre nesses períodos demandava às terras exuberantes da Amazônia, como a uma terra da permissão);
x. “Centenário da sua Morte (1898 - Orações Patrióticas);
xi. “Mandú (o eremicola) : romance indo-brazileno”. (Publicado pela Editora: Ceará : L.C. Cholowieçki, em 1901. É um livro de quase 300 páginas de rara observação e estilo forte e claro. Fácil é de imaginar-se como o cônego Pennafort, de tendências intelectuais aprimoradas, cuidasse em vestir de mistério aquelas misteriosas estórias de Iaras, botos, matintas-pereiras, curupiras, uirapurus, tão abundantes e típicas da região da Amazônia);
xii. “Quadro Sinótico dos Nomes IndoBrasileiros” (1899);
xiii. “Filologia Comparada - Estudos Sobre a Palingenésia da Língua Tupi” (1903);
“Brazil pre-historico. Memorial encyclographico a proposito do 4o. centenario do seu descobrimento” (Publicado pela Editora: Fortaleza, Studart, em 1900. Este livro é um memorial enciclográfico, um estudo de cerca de 358 páginas, em que discorre, à luz da ciência de então, sobre a história do Brasil, o povoamento do solo, as línguas tupis ou língua geral falada pelos nossos indígenas).
Eram bem conhecidas suas aptidões para estudos de língua indígenas e orientais, sendo esses ensaios que escreveu e publicou em vários jornais e revistas, muito apreciados e tidos em alta valia.
Pouco se sabe sobre os primeiros anos de existência, no Ceará, nem como se transportou até o Pará, onde fixou residência e viveu até os últimos momentos de sua vida, entretanto, Pennafort recebeu, a 2 de maio de 1880, as ordens sacras das mãos do Bispo D. Antônio de Macedo Costa, tendo de seguida paroquiado em diversas freguesias, sempre cumprindo rigorosamente os deveres da religião e pugnando quanto lhe permitiam as forças, pelo progresso material da cada um.


Bragança, 2015

© Francisco Weyl



NOTAS:
1) O presente artigo esclarece a homenagem e as relações de parentesco entre o Cônego Pennafort, Patrono, e Francisco Weyl, Imortal ALB-Braga
2) O acadêmico ocupa a Cadeira de Número 35, cujo Patrono é seu Tio-Avô Ulisses Pennafort
3) O presente artigo utiliza-se de excertos de textos publicados em 1969 por José Valdo Ribeiro Ramos, Academia de Letras do Ceará, e Dr. Barão de Stuart, do "Dicionário Bibliográfico Cearense".

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